Voz do Associado seg, 06 de julho de 2020
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Por: Carlos Augusto Vieira da Costa, ex-presidente da ANPM, procurador do Município de Curitiba/PR

Dia desses, talvez inspirado pela atmosfera melancólica desses tempos de pandemia, lembrei-me da queda do Muro de Berlim (novembro de 1989) e do muito que foi escrito sobre o “Fim da História”, numa revisitação da teoria criada por Hegel, datada do já pré-histórico Século XIX.

Mais precisamente lembrei-me de Francis Fukuyama, ícone do neo-liberalismo americano e autor do livro “O fim da história e o último homem”, em que decretou o fim da evolução sociocultural humana a partir da vitória das democracias liberais ocidentais sobre o socialismo de matiz soviético.

O livro virou um “best-seller” e Fukuyama foi viver em Palo Alto, para lecionar na Universidade de Stanford, uma das mais prestigiadas do mundo, bem como para curtir a sua justa fortuna amealhada com as vendas estratosféricas da sua mais famosa obra literária.

Hoje, porém, fico imaginando FF diante dessa improvável crise econômica e social que desabou sobre o mundo. Uma crise provocada não pelo contra-ataque de ideias neo-socialistas implementadas por um governo esquerdopata, mas sim por um ser minúsculo, invisível a olho-nu, que colocou de joelho um sistema concebido para retroalimentar até mesmo de suas mazelas, como que em moto-contínuo.

Estaria Francis planejando escrever um outro “best-seller”? Dessa vez não mais sobre a queda de um muro, mas sim a respeito do surgimento de uma nova “Rota da Seda”, que reconectou a China com o Ocidente para nos inundar de produtos industrializados produzidos a um custo irreal para os padrões das democracias ocidentais, e de quebra nos infestar de seres microscópicos que, sabe-se lá a razão, sempre surgem do lado de lá da muralha?

Certamente que não. Francis Fukuyama é um intelectual respeitadíssimo, e não colocaria a credibilidade de uma vida a serviço dessa ideológica canastrona patrocinada por Donald Trump.

Todavia, como intelectual que de fato é, Fukuyama não poderá deixar de reconhecer que em sua teoria sobre o “Fim da História” (1992) pensou em quase tudo, menos que o Homem, a despeito de todo o avanço tecnológico alcançado pela civilização, continua sendo uma poeira no Universo, que teve data para entrar em cena, e certamente terá para deixá-la, em que pese a nossa presunção capitalista burguesa de que tudo podemos.

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