Voz do Associado qui, 07 de outubro de 2021
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Por: Nathália Costa Tozetto,

Procuradora do Município de Goiânia. Discente do Mestrado de Direito e Políticas Públicas PPGDP/UFG

O Brasil é um país que recebeu imigrantes de várias nacionalidades, desde os nossos colonizadores portugueses à italianos, espanhóis, americanos, russos, franceses, chineses, japoneses... Conforme as estatísticas de IBGE entre os anos de 1820 a 1975 vieram mais de cinco milhões de pessoas. Anteriormente já estavam em nosso país quatro milhões de pessoas vindas da África em decorrência da escravidão, aos quais some-se os índios nativos que aqui se encontravam por ocasião do descobrimento, contando à época três milhões de pessoas. Pois bem, o resumo evidencia a multietnicidade brasileira, somos compostos por uma diversidade de povos que lutaram e lutam por condições melhores de vida ao longo de nossa história.

Não se sabe o que ocorreu no caminho que tem feito esse povo duvidar do próprio valor. Serão os escritos de Monteiro Lobato, segundo os quais somos um povo mestiço e predisposto à preguiça e luxúria? Ou, segundo o dramaturgo Nelson Rodrigues, o complexo vira-lata característica do brasileiro caracterizada como "a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima.”.

A diversidade do povoamento certamente não é o problema, o país aclamado pelo brasileiro como modelo de sucesso - os Estados Unidos, também possui uma população extremamente miscigenada e ainda assim, não se pode duvidar do amor do americano ao seu país e sua cultura. Qual seria a diferença?

O processo de independência americana foi marcado por ideais da sociedade civil, sua história não passou por períodos ditatoriais, sendo o lema da nação a liberdade. Já nós brasileiros não tivemos a participação da sociedade civil no processo de independência. Apesar de termos vivido as restrições de liberdade de uma ditadura, tal fato é ignorado por grande parte da população e especialmente pela mais abastada, que a exalta por saber que a sua liberdade não foi e não será atingida, pois estão resguardados pelo manto da abastança financeira.

Há brasileiros que acham que suas opiniões pessoais devem sobressair mediante o silêncio do outro, é o domínio do “eu” e o “outro”, não falamos em “nós”, não se pensa no que é bom para nosso caminho como nação, quais as políticas públicas precisamos. Esquecemos que a política pública escolhida pelo político da vez vai influir e resolver ou não as necessidades públicas da sociedade como um todo e, por fim, influir sobre nossas famílias e suas realidades. Reclama-se sem querer saber o que é necessário, queremos que alguém resolva, não queremos nos envolver nas minucias.

Nesse processo de abster-se de entender os meios e fins utilizados por nossos governantes nos eximimos de nossa responsabilidade como cidadãos, afinal, o Estado somos nós, todo o poder vem do povo que o exerce por seus representantes eleitos. Ou seja, nossa república nada mais é do que uma ficção jurídica constituída por pessoas que conduzem um projeto de país delineado na Constituição, um sonho a ser executado na medida das possibilidades do Estado, sendo imprescindível a participação da população nesse processo de escolha.

E o que podemos fazer de útil como cidadãos? O voto já é o limiar mínimo, não podemos votar, sentar e esperar o milagre da sociedade desejada precisamos desenvolver nosso interesse e realizar uma efetiva participação na construção das políticas públicas que precisamos e desejamos.

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