Voz do Associado seg, 13 de abril de 2020
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Por: Carlos Augusto Vieira da Costa, ex-presidente da ANPM, procurador do Município de Curitiba

No início dessa semana tivemos ao vivo e a cores uma clara demonstração de como é complexo o exercício no poder em um regime democrático: o Presidente da República tentou demitir um dos seus Ministros e simplesmente não conseguiu.

E a explicação para esse imbróglio é simples: estamos em um regime democrático, e não de um regime despótico, onde o quem manda é o déspota, seja ele esclarecido ou não.

E para quem gosta de detratar as “democracias”, foi um bom exemplo do que ela tem de melhor, que é justamente impedir o arbítrio e a prevalência da vontade de um em detrimento do interesse de muitos. Não à toa, aliás, que Winston Churchill costumava dizer que: “a democracia é o pior dos regimes, à exceção de todos os outros.”

A propósito, antes que alguém pense em contrário, não se está aqui tomando o partido do Ministro da Saúde, Henrique Mandetta, contra o Presidente Bolsonaro. Primeiramente porque Mandetta não é uma virgem vestal em meio a uma horda de bárbaros.

Trata-se, na verdade, de um político experiente, com passagens por funções executivas e dois mantados de deputado federal, além de ter sido um dos mais ferrenhos críticos do programa “Mais Médicos”, que tanta falta faz hoje nesses tempos de pandemia.

Assim, não é alguém que seja digno de pena. Pelo contrário, ganhou de presente do destino a chance de representar um dos papéis mais cobiçados de qualquer enredo dramático: o do desconhecido que é alçado pelo destino à condição de protagonista responsável pela salvação de muitos, ainda que isto lhe custe a sua existência, no caso o seu cargo.

O mais interessante, porém, é que essa história não teria ganho esses contornos dramáticos não fosse Bolsonaro ter espontaneamente assumido o papel de antagonista, sem o qual o mito do herói virtuoso não se incorpora nem se consolida.

Portanto, nessa “briga de cachorro grande”, onde quem mete a mão acaba mordido, não se está torcendo para ninguém. Que vença o que for melhor para a democracia, pois assim estaremos todos contemplados, pelo bem e pelo mal.

*Este é um espaço de debate e manifestação para os associados publicarem artigos. Os textos expressam a opinião de seus autores e não a posição institucional da ANPM

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